Privatização não resolverá déficit da Empresa, mas prejudicará o Brasil, afirma mestre em Geografia Humana pela USP

Foto: Arquivo Pessoal

Diante da conjuntura política do país, a privatização dos Correios não resolveria o suposto déficit da Empresa, essa é a opinião do mestre em Geografia Humana pela USP, Igor Venceslau, que concedeu entrevista exclusiva ao SINTECT-GO sobre a privatização da ECT. Segundo Igor a queda do lucro da ECT não é estrutural e sim conjuntural, ou seja, é influenciada pela crise na qual se encontra a economia mundial e, consequentemente, a economia brasileira.

A diretoria da ECT tem  falado muito no déficit e que a Empresa não é mais tão lucrativa, contudo, de acordo com Igor Venceslau, a ECT teve 9% de lucro com as taxas na última década. “Se os Correios não fossem lucrativos, por que o mercado se interessaria na privatização dessa Empresa? Certamente, os Correios geram muito lucro, e o fato de estarem sofrendo com a atual crise não justifica um projeto apressado de privatização. Não é a primeira vez que a empresa registra queda nas taxas de lucro (flutuação comum a qualquer grande empresa) e o mais sensato é aguardar a recuperação da economia para em seguida pensar em qualquer ação”, explicou.

A privatização da ECT, proposta pelo atual governo, resultará em vários prejuízos para o Brasil, principalmente social, econômico, territorial e geopolítica. “Em primeiro lugar, muitas pessoas seriam privadas do acesso ao serviço postal, tanto pelo fechamento de agências comunitárias e daquelas consideradas deficitárias quanto pela provável suspensão do serviço de entrega domiciliária em muitos dos 5570 municípios brasileiros, onde a entrega é realizada pela mesma agência de postagem (AC/UD).”, esclareceu. Segundo ele, foi o que aconteceu na Argentina após a privatização da empresa de correio do país.

De acordo com o geógrafo, no âmbito social, a Empresa perderia a possibilidade de executar políticas públicas, como distribuição de livros didáticos, entrega de vacinas, coleta e distribuição de donativos em casos de catástrofes, patrocínio esportivo, entre outros, e assim a sociedade seria prejudicada.

“No plano econômico, o resultado seria o aprofundamento da crise e aumento das dificuldades logísticas para setores que dependem da atuação da estatal. As empresas de e-commerce seriam sem dúvida as mais afetadas: atualmente, empresas de pequeno, médio e grande porte podem realizar vendas pela Internet para todos os municípios do país, contando com a entrega de encomendas dos Correios. Numa situação de privatização e consequente fechamento de agências, o mercado dessas empresas passa a ser automaticamente reduzido, pois elas deixariam de contar com o único operador logístico presente em todo o território brasileiro. A extinção de dois programas importantes também abalaria a economia, principalmente para pequenas e médias empresas e nas menores cidades: o Exporta Fácil e o Banco Postal”, explicou Igor Venceslau.

A ECT é a única instituição presente em 100% do território nacional, constituindo um importante elemento de integração do território, que seria perdido com a privatização. Além disso, do ponto de vista geopolítico, a privatização causaria a diminuição da soberania nacional. “Grandes corporações multinacionais de correio – FedEx, UPS e DHL – são os agentes que possuem maior interesse na mudança do quadro normativo (monopólio estatal) e organizacional (empresa estatal) do correio brasileiro. O Estado abriria mão, assim, do controle sobre os fluxos de mensagens e encomendas dentro de suas fronteiras e as estratégias logísticas seriam montadas conforme interesses externos”, informou.

 

Laryssa Machado

Confira aqui a entrevista de Igor Venceslau para o Jornal da USP