Crescem violência e assassinatos de trabalhadores em conflitos no campo

São Paulo – O número de assassinatos em conflitos no campo chegou a 70 no ano passado, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o mais alto desde 2003, com crescimento de 15% sobre o ano anterior. Esse total pode ser ainda maior. A Pastoral, que tem sofrido ataques virtuais, destaca quatro massacres ocorridos na Bahia, Mato Grosso, Pará e Rondônia, além da suspeita de um quinto no Amazonas, o que faria crescer em pelo menos 10 o total de vítimas.

De acordo com o relatório, 28 dos 70 assassinatos (40%) ocorreram em massacres. Desde 1985, foram 46 massacres, com 220 vítimas. A CPT tem uma página na internet sobre esse tema. Por falta de informações, a lista não inclui o possível massacre do Vale do Javari, no Amazonas, em julho e agosto, envolvendo indígenas isolados conhecidos como “índios flecheiros”.

“A CPT ressalta que, além dos dados de assassinatos que constam nesta relação, há muitos outros que acontecem na imensidão deste país e que só a dor das famílias é que os registram”, diz a organização sobre o balanço de 2017. Segundo o bispo emérito de Goiás, Dom Tomás Balduíno, um dos fundadores da Pastoral, a publicação “é apenas uma amostra dos conflitos no Brasil”.

A partir de 2015, houve um “crescimento brusco” de mortes violentas, de trabalhadores rurais, indígenas, quilombos, posseiros, pescadores e assentados. O maior número de assassinatos ocorreu no Pará, 21, sendo 10 no chamado massacre de Pau d´Arco, ocorrido em 24 de maio, durante ação de reintegração de posse em uma fazenda. Em seguida, vêm Rondônia (17) e Bahia (10). 

 

Impunidade

Também de 1985 a 2017, a CPT registrou 1.438 casos de conflitos no campo, que resultaram em 1.904 vítimas. Apenas 113 (8%) foram julgados, com 31 mandantes e 94 executores condenados. “Isso mostra como a impunidade ainda é um dos pilares mantenedores da violência no campo”, diz a Pastoral.

Dos 1.438 casos, 658 ocorreram na região Norte, que tem 970 vítimas. Apenas no Pará, são 466 e 702, respectivamente. Depois vêm o Maranhão, com 157 casos e 168 vítimas, e Rondônia: 102 casos e 147 assassinatos.

A CPT informou ter sofrido seguidos ataques de hackers a partir do segundo semestre do ano passado, “que forçaram a limitação do funcionamento de seus servidores na tentativa de manter a segurança do sistema, o que acabou comprometendo o desempenho das tarefas diárias da Pastoral”. Isso acabou prejudicando a conclusão do relatório anual Conflitos no Campo Brasil, o que impossibilitou o lançamento na data habitual, que é a semana de 17 de abril, Dia Internacional de Luta Camponesa, em memória dos sem-terra assassinados em Eldorado dos Carajás (PA) em 1996.

“Esses ataques podem, também, fazer parte do processo de criminalização empreendido contra organizações e movimentos sociais de luta. O caso foi denunciado às instâncias policiais competentes e segue sob investigação”, afirma a Pastora. “A CPT aproveita para reafirmar seu compromisso com as causas do povo pobre do campo, e que não conseguirão nos calar!”